O Perigo de Uma História Única.

Sou de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor universitário e minha mãe era administradora. Tínhamos,
como era comum na nossa classe social, empregados domésticos, que moravam em nossa casa e que, em geral, vinham de vilarejos rurais próximos. No ano em que fiz oito anos, um menino novo foi trabalhar lá em casa. O nome dele era Fide. A única coisa que minha mãe nos contou sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe mandava inhame, arroz e nossas roupas velhas para eles. Quando eu não comia todo o meu jantar, ela dizia: “Coma tudo! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não têm nada?”. E eu sentia uma pena enorme deles.
Certo sábado, fomos ao vilarejo de Fide fazer uma visita. Sua mãe nos mostrou um cesto de palha pintado com uns desenhos lindos que o irmão dele tinha feito. Fiquei espantada. Não havia me ocorrido que alguém naquela família pudesse fazer alguma coisa. Eu só tinha ouvido falar sobre como eram pobres , então ficou impossível para mim vê-los como qual quer coisa além de pobres. A pobreza era minha história única deles. O poeta palestino Mourid Barghouti escreveu que, se você quiser espoliar um povo, a maneira mais simples é contar a história dele e começar com “em segundo lugar”.
Comece a história com a flechas dos indígenas americanos, e não com a chegada dos britânicos, e a história será completamente diferente. Todas essas, e outras histórias, que me fazem quem eu sou . Mas insistir só nas histórias negativas é simplicar minha experiência e não olhar para as muitas outras histórias que me formaram.
A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos, não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história. As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e  caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo,
mas também podem reparar essa dignidade despedaçada. Concluímos por fim, que nunca existirá uma única história mesmo que, por mais verdadeira que aparente ser terá retrorias!.

Ref: O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA, PÁG: 6-17. Chimamanda N. Adichie, 2009. Tra:Julia Romeu. Companhia das Letras.

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